sábado, 30 de abril de 2011

A História do Luxo



 O luxo aparece na historia desde os primitivos, representado por trocas simbólicas e na espiritualidade nas dádivas. Na Monarquia o luxo é visto nos nobres, com seus excessos e ostentações. Durante a revolução burguesa, o luxo passa a ser consumido em maior escala devido ao talento e trabalho na ascensão social.
O luxo moderno surgiu no século XVIII, com o desenvolvimento técnico trazido pela
Revolução Industrial. Nesse momento, ganhou sua dimensão sensual, de satisfação pessoal do indivíduo – em contraponto ao instrumento de diferenciação social. Já com o advento do século XX, uma nova classe de nível médio ou superior aparece, ganhando importância social e econômica graças a suas atividades profissionais. “Frequentemente cultivada, ela selecionará usos e aquisições em função do seu profundo desejo de um “estilo de vida”, de acordo com seus desejos de satisfação pessoal e de pertencer a um clã social, síntese de umahistória pessoal, de aspirações e sonhos, fantasias.” (ALLERES, 2000).


 
Tanto Lipovetsky como Jorge Forbes, psicanalista, vêem nessa evolução a grande tendência do segmento: além do sentido da acumulação exibicionista de objetos caros, "o que vemos hoje é a atração pelo luxo dos sentidos, do prazer e da sensibilidade sentido na intimidade por cada indivíduo e não o luxo exterior, da exibição e da opulência, que visa simplesmente demonstrar status" (LIPOVETSKY, 2004). O luxo ganha sua face emocional, sensual e de experiência. Isso não significa o fim da elitização do luxo, mas a mudança de sua expressão: de ostentação, voltada para a admiração de um terceiro, para o prazer individual de saber-se diferente. É a transição do luxo ostentatório para o intimista. Isso também se intensifica com a democratização das sociedades, que passam a renegar, de certa forma, a desigualdade entre as pessoas. O luxo passa a ser mais sensorial, de prazer e sensualidade – mais centrado nas sensações e menos na aparência.
Hoje o luxo esta ligado muito mais ao prazer que ao produto. O luxo é também emocional. Ao consumirem artigos ou serviços de luxo as pessoas esperam encontrar exclusividade e excelência em qualidade.



O que é LUXO ???

LUXO
[Do lat. luxu.]
S. m.
1. Modo de vida caracterizado por grandes despesas supérfluas e pelo gosto da ostentação e do prazer; fausto, ostentação, magnificência
2. Caráter do que é custoso e suntuoso
3. Bem ou prazer custoso e supérfluo; superfluidade, luxaria
(Dicionário Aurélio)



Etimologicamente, "luxo" e "luz" têm a mesma origem, vêm do latim "lux", que significa
"luz". Como se pode verificar na definição acima transcrita, a referência à luz provavelmente associa-se com conceitos como brilho, esplendor, distinção perceptível ou resplandecente.

Ao examinarmos a definição dicionarizada, notamos que há uma dimensão bastante concreta do termo (suntuosidade, fausto, pompa, supérfluo, aparência, poder material). Contudo, como continua observando João Braga, há vários aspectos intangíveis embutidos no conceito, pois o luxo “deixa de estar ligado a um objeto para se associar a um signo, a um código, a um comportamento, à vaidade, ao conforto, a um estilo de vida, a valores éticos e estéticos,(...) ao prazer e ao requinte.” 

 



O Boom do Luxo na Capital Mineira

O boom de luxo na capital e visto ainda em outros setores da construção. Condomínios de luxo foram construídos, outros serão inaugurados brevemente e alguns ainda estão em obras e fase de planejamento. A partir de março, empreendimentos milionários no setor condomínios residenciais de luxo vão começar a mudar a paisagem dos vetores Norte e Sul da capital mineira. Com investimento que deve alcançar a marca de R$ 1 bilhão, o condomínio de casas Reserva Real, em Jaboticatubas, a 45 quilômetros de Belo Horizonte, recebeu no fim de agosto a licença de instalação e já deve ter as primeiras unidades vendidas no próximo mês. O empreendimento do grupo português Design Resorts prevê a construção de 5.352 residências em uma área de 11,7 milhões de metros quadrados que ainda incluirá aeroporto, campos de golfe, resort, complexo hípico e um centro comercial.


Na outra ponta da cidade, na estrada para o Distrito de Macacos, também em março, será iniciada aconstrução do Mercure Hotel & Spa Macacos, a 10 quilômetros do BH Shopping. O projeto é do grupo XPTO Empreendimentos Imobiliários S.A, composto por 50 investidores. Com aporte de R$ 30milhões, o hotel, no formato horizontal composto por 90 unidades parecidas com bangalôs, ocupará uma área de 70 mil metros quadrados, dos quais 50 mil serão de mata preservada.



Alem destes setores citados, o comercio de veículos de luxo tbm espande seus negócios. Na Minas Maquinas modelo mais simples custa R$ 115 mil e as vendas neste ano vão bem, pois
de acordo com os cálculos de Salgado, cresceram 50% em relação ao ano passado. Os modelos maisluxuosos dificilmente fazem pouso prolongado no salão de vendas, pois são concorridos na cidade. Outra alemã que vende modelos de luxo em Belo Horizonte, a Audi, não reclama da disposição local para investir em veículos muito acima dos seis dígitos. “A previsão é que o crescimento das vendas neste ano fique entre 60% e 70% em relação ao ano passado”, afirma o superintende-geral da concessionária Audi Carbel, Miguel Francisco Albino.



Justificada a crescente demanda do mercado de luxo e sua importância para a economia, meus estudos se voltam para a historia do luxo, seu significado, quem o consome e quais devem ser minhas estratégias para a implantação de um novo projeto no mercado Mineiro.                       

Outros Novos Hoteis em Belo Horizonte

Além do Fasano, outras bandeiras de peso do segmento de hotelaria de luxo desembarcam em BH. A prefeitura informa que hoje há três empreendimentos no padrão cinco estrelas em licenciamento na capital, com a previsão de construção de 757 leitos e investimentos de R$ 235 milhões até a Copa de 2014.



Dentro do segmento cinco estrelas, o grupo Maio/Paranasa, em parceria com a rede Accor de hotéis, vai construir o Site Belvedere, que terá um hotel com a bandeira Pullman, de luxo. Com uma estrutura arrojada na Avenida Raja Gabaglia, o Site Belvedere vai receber investimentos na ordem de R$150 milhões . “Escolhemos Belo Horizonte pela importância econômica que a cidade representa no cenário nacional, principalmente no que diz respeito ao turismo de negócios”, ressalta Abel Castro, diretor de desenvolvimento de negócios da Accor.

Image
Hote Site Belvedere


A rede Bristol também anunciou a construção do Stadium, de padrão cinco estrelas, na Região da Pampulha, em parceria com a construtora CRM, com investimento aproximado de R$ 50 milhões. A bandeira americana Hyatt é outra a desembarcar antes do início do Mundial em BH, com aportes em um hotel cinco estrelas que deverá ser erguido juntamente com a torre comercial batizada de Etoile na regiãodo trevo do BH Shopping.

BRISTOL STADIUM HOTEL
Bristol Stadium Hotel

Projeto Hotel Fasano Belo Horizonte

Algumas imagens de apresentação para o projeto do Fasano em BH  !!!









Hotel Fasano em Belo Horizonte

Os hotéis de luxo estão começando a surgir em Belo Horizonte. Um ícone da hotelaria de luxo no Brasil vai investir R$ 52 milhões na cidade. Foi concluído o processo de licitação para uso do prédio do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), que fica na Praça da Liberdade, e o vencedor foi o consócio formado pelo Grupo Fasano e a incorporadora JHSF.




O primeiro empreendimento do Fasano em Minas vai seguir o conceito de hotel boutique implantado em áreas nobres de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com Constantino Bittencourt, sócio do grupo, a ideia é oferecer um serviço diferenciado, de padrão internacional, que inclui spa, restaurante (que também carrega o famoso nome do grupo) e atendimento personalizado.“Muita gente vem à cidade e acaba não se hospedando por falta de opção. Há uma demanda reprimida por leitos de luxo. Estamos trazendo para BH o que nos projetou no mercado: atendimento de alto padrão”,comenta.


O Luxo em BH

Quando o assunto e luxo, Belo Horizonte e emergente em relação a grandes metrópoles, como São Paulo. Mas um toque de sofisticação ja começa a desembarcar por aqui. Segundo as consultorias, a estrela desse crescimento devera ser a área de serviços, como hotelarias, restaurantes, spas e resorts. Mas o consumo de bolsas, sapatos, roupas, eletrônicos e requintados automóveis já faz parte da rotina de um seleto grupo de mineiros.

A estruturação da oferta de produtos de luxo em Belo Horizonte enfrenta o fato de São Paulo ser o centro de gravidade deste segmento no país. Com a abertura de novos empreendimentos e expansão de outros já existentes, as empresas mineiras tentam reter o consumidor, que muitas vezes viaja para outros estados para fazer compras.

De acordo com os empresários, o segmento está superaquecido, e as perspectivas de crescimento são enormes. Entretanto, para atuar nesse mercado, é preciso acompanhar as transformações de um público diferenciado, exigente e que tem disposição para gastar.

A capital Mineira é uma das cidades que controlam 70 % da riqueza da América Latina. Assim, novos projetos e empreendimentos são trazidos para cá para suprir essa demanda.
O novo andar do BH shopping inaugurado em outubro do ano passado representa a resposta do mercado belo horizontino para isto.


 Um conjunto de luxo no seu quarto piso, Mariana, teve investimento total de R$ 80 milhoes. Nas vitrines, marcas como Manoel Bernardes, Swarovski,Le Lis Banc, Villa Vittini, Fnac e Apple. Segundo  Durleno Rezende, superintendente do BH Shopping o novo piso do BH reflete uma resposta a esta demanda.

O Mercado do Luxo no Brasil

O nosso país como economia emergente é cada vez mais o destino de marcas de luxo. Essa movimentação de marcas em direção ao Brasil é vista como um sinal da pujança do chamado mercado de luxo no país. Segundo estimativas levantadas por pesquisas sobre o setor, o "luxo" deve faturar este ano no Brasil algo em torno de US$ 7,6 bilhões, um crescimento de 22% com relação a 2009, o triplo do esperado para o setor do varejo brasileiro como um todo (que deverá ficar em torno de 7%). A pesquisa foi feita em conjunto pela MCF Consultoria, empresa brasileira ligada ao setor de luxo, e a GFK, empresa alemã de pesquisa de mercado."

"O Brasil é o segundo país do mundo para se investir em mercado de luxo, atrás apenas dos Estados Unidos, conforme dados da Bain&Co por causa do crescimento acelerado do número de milionários".

Segundo dados do banco Merrill Lynch, em 2009, eram 147 mil pessoas com patrimônio superior a US$ 1 milhão, um número que cresce a uma taxa de 17% ao ano. "Estima-se que até 2014, os grandes mercados do luxo terão migrado da Europa e Estados Unidos para o Bric [grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China].


Pré TFG - Apresentação do Tema

Meu tema de pré de tfg é Economia, e meu problema é o Mercado de Luxo.
Em pesquisas feitas é evidente a crescente ascensão do mercado de produtos e serviços de luxo, e grande demanda nesta área.
Parece paradoxal que, num país com tantos problemas sociais como o Brasil, em que
expressiva parcela da população vive em estágio de extrema pobreza, a discussão sobre o mercado dos produtos de luxo comece a chamar tanto a atenção dos estudiosos e do público em geral. Como acontece em todo o mundo, também aqui esse segmento movimenta consideráveis volumes de negócios, atrai profissionais e suscita o aparecimento de novos projetos voltados para o setor.

Em meu trabalho estudarei esse mercado sob a ótica de um segmento da economia com enormes potenciais de crescimento, geração de renda e de trabalho.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A importância das estruturas urbanas para a economia

                                                        Mapa aponta concentrações urbanas no leste da China,
                                                        em estudo desenvolvido na Universidade de Columbia [Columbia University]

Vejamos porque a cidade é por excelência o campo de parte substancial da produção econômica de um país. Estudos em geografia econômica definem aglomerações urbanas como externalidades ou resultados do processo econômico, com efeitos circulares sobre o próprio sistema (Marshall, 1920), sempre referentes ao problema da distância e custos de transporte. Estas aglomerações, produzidas para reduzir distâncias entre atores econômicos, assumem padrões internos de localização das atividades e dos atores sócio-econômicos – padrões que terminam por impactar as trocas econômicas e as localizações futuras de novos atores. A localização de firmas em condição de produção e transação e a localização residencial dos trabalhadores/consumidores fazem diferença nas capacidades desses em engajar-se em trocas econômicas, potencializando suas interações ao minimizar seus custos e tempo de transporte. A mediação do espaço da cidade e das redes de localização e acessibilidade regionais amplifica (ou impõe restrições) as possibilidades de interação dos atores econômicos, em função do grau de proximidade entre suas localizações. A economia em geral, e a organização dos agentes de produção em particular, precisam da cidade: a relação entre o “hardware” da cidade e o “software” das interações econômicas se coloca como um problema fundamental no desempenho econômico. Esse é o caso, sobretudo quando a organização da produção se descentraliza entre e dentro de setores, envolvendo redes de produção conjunta, incluindo tanto indústrias de manufatura, de maior impacto regional e metropolitano, quanto às indústrias de serviço e informação, de maior impacto intraurbano – ambos envolvendo crescente aglomeração. É através das estruturas da cidade e suas ligações a outras cidades e regiões que as ações e interações dos agentes se materializam: elas são condições para a economia auto-organizar-se com certo grau de eficiência – uma economia produzida, mesmo em suas amarras globais, fundamentalmente na escala das conexões locais e regionais (7). Aqui, claramente, a acessibilidade construída através de redes viárias é um item central para aumentar o potencial de contato entre atores e reduzir seus custos e tempo de transporte – itens de produtividade. Em outras palavras, os potenciais de interação estão manifestos na própria espacialidade dos padrões urbanos, e nos diferentes graus de estruturação de suas redes viárias. A eficiência econômica da estrutura física da cidade e da região depende da sua capacidade de permitir ligações de produção e interação entre firmas e entre setores, como redes de agentes complementares de produção posicionados em diferentes localizações (8). A mediação da estrutura urbana é fortemente presente nas relações entre os diferentes tipos de atores:
a) Interações entre firmas intermediárias e entre setores da economia que antecedem o contato final entre agentes consumidores e fornecedores. Empresas dependem das economias de aglomeração: as vantagens geradas pelas relações entre firmas na produção (input-output linkages), e no o compartilhamento dos mercados de consumidores e de trabalho (labour pooling) e dos spillover tecnológicos (consequências imprevistas ou o grau no qual o aumento de produtividade em setores upstream em uma indústria leva a níveis mais altos de produtividade metropolitana naquela indústria). No primeiro caso, a aglomeração do setor final em uma região ocorre em função da concentração da indústria intermediária, e vice-versa (9). Quando firmas do setor final estão concentradas, a demanda local por produtos intermediários aumenta, tornando a região atraente a firmas daqueles produtos. Ao mesmo tempo, em função de produtos intermediários estarem disponíveis em menores preços na mesma região (pela redução de custos de transporte gerados pela aglomeração), firmas de produção final são atraídas. Assim, podemos ter um processo cumulativo e circular levando a aglomeração (10). As ligações das redes de produção dependem da cidade, ainda, como meio para a organização de suas trocas intermediárias – transações que se beneficiam das aglomerações e que correspondem a uma parte substancial das interações na economia (11). A coordenação espacial entre firmas das redes de ligações produtivas são centrais para o desempenho da economia: o padrão espacial de distribuições de atividades e de acessibilidade urbana e sua extensão regional terão impactos sobre a realização das transações intermediárias na produção de bens e serviços. Estas podem ser menos ou mais eficientes em função da estrutura urbana e seus padrões de localização, acessibilidade, e a mobilidade assim proporcionada. Por outro lado, a estrutura espacial frente a interações de produção, e suas relações com fornecedores, consumidores finais e trabalhadores serão essenciais para eficiência das cidades como suporte a economia, ao relacionar-se à produtividade e, em longo prazo, a uma maior ou menor sustentabilidade da economia local. Há, em suma, uma correlação positiva entre a concentração espacial de firmas em ligação e a produtividade e eficiência organizacional nessas redes. Essa tendência para a aglomeração sofrerá, naturalmente, tensões centrífugas e deseconomias, mas será profundamente dependente das condições de acessibilidade. A geografia urbana é, assim, ligada à forma como firmas organizam suas atividades de produção, gerenciamento, e acesso a recursos, dentro e entre firmas (12).
b) A relação firma-trabalhador, tanto sob o ponto de vista da firma (buscando mão-de-obra) quanto do trabalhador (buscando ofertas de trabalho e condições de acessibilidade), também será impactada por padrões urbanos. Tanto decisões de localização da empresa quanto os custos e tempo de transporte impostos ao trabalhador podem ser influenciados positivamente por estruturas urbanas densas e de maior acessibilidade. Ainda é importante frisar que a mediação do espaço é um item de equidade social: as condições de uma estrutura urbana em distribuir benefícios locacionais e acessibilidade entre agentes socialmente diferenciados pode minimizar diferenças sociais (13).
c) A relação oferta de serviços/bens e consumidor final: há uma bem-conhecida relação de atratividade mútua entre consumidores e fornecimento final de serviços e bens (14) que tem a cidade como palco por excelência (a cidade como locus do consumo interno, que por sua vez é item crucial da animação da economia de um país): serviços e comércio disputam localizações privilegiadas no sentido da proximidade a seus consumidores potenciais e suas residências, e vice-versa. Distâncias mais curtas proporcionadas por cidades mais densas e redes viárias de boa acessibilidade tentem a impactar positivamente a mobilidade do consumidor, outro item central para a vitalidade do ciclo econômico.

A urbanização no coração da economia

China e Brasil: a urbanização como estratégia econômica


Há diferenças fundamentais entre a realidade chinesa e a realidade brasileira, as quais devem ser levadas em conta ao discutirmos o volume e a sistematicidade da preparação infraestrutural naquele país (2). Em primeiro lugar, a China possui o papel de um imenso distrito industrial na divisão mundial do trabalho e da produção. Qualquer comparação deve ter presentes os papéis dos países nessa divisão. A dependência chinesa a um tipo de infraestrutura baseada em urbanização é maior do que em outros países. Além disso, a China se transforma de um país largamente rural para um país urbanizado em grande escala, e o faz com conhecimento de experiências de outros países, bem como com recursos aparentemente inéditos. Nesse sentido, o Brasil passa por uma transformação da base de sua economia na indústria da agricultura para a de manufatura, serviços e informação, disputando com a China e outros atores o papel de produtor e exportador. Soma-se a isto o fato do país asiático possuir grande liquidez de capital, disponível pelo planejamento central do governo, que permite grande mobilização. Mantendo essas diferenças fundamentais como pano de fundo, vemos que o crescimento econômico chinês é fortemente ancorado no investimento em infraestruturas que incluem desde a mobilidade do trabalhador (acaba-se de inaugurar na China o trem mais rápido do mundo) ao apoio logístico para a produção e trocas econômicas (3). A urbanização é tida ainda como um dos ajustes estruturais para reduzir a dependência da China em relação a sua demanda externa e sua dependência das exportações (4). Entre os itens da estratégia chinesa de crescimento estão o enorme investimento em capacidade logística para a mobilidade da produção – a “hiper-mobilidade” (auto-estradas e o sistema ferroviário, que tiveram 70% mais recursos em 2009 que no ano anterior); a mobilidade e distribuição regional da população, prevendo o consumo interno; o crescimento das cidades de porte médio e vantagens comparativas, ancorando-se o modelo econômico na interiorização da indústria através de estímulos como logística, mão de obra e incentivos fiscais; o desenvolvimento acelerado das infraestruturas do país tendo como base um modelo de conurbação; e, finalmente, o pacote de vantagens sociais para novos moradores urbanos oriundos de migração setorial rural para a economia urbana: a China se prepara para receber 10 milhões de novos cidadãos (5). Esses argumentos, contudo, não implicam que nosso país não tenha a necessidade de investir em logística e infraestrutura. O Brasil passa por transformação da base de sua economia na indústria da agricultura para a de manufatura, serviços e informação, disputando com a China e outros atores o papel de produtor e exportador. Os necessários recursos definidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são, contudo, proporcionalmente mais modestos (6). Finalmente, esses recursos vêm sendo distribuídos em infinidades de projetos individuais, demandados por prefeituras e, portanto, com grande penetração nas realidades locais, mas sem ligação a estratégias conjuntas de tratamento da estrutura urbana e de preparação das cidades e regiões metropolitanas, prevendo sua capilarização nas cidades de médio e pequeno porte, como estruturas para o crescimento econômico. Uma relevante exceção é o modelo de produção industrial de alta tecnologia em escala regional em São Paulo, baseado em redes de cidades de porte médio e pequeno, fortemente interligadas, contando com infraestrutura de circulação e transporte iguais ou melhores às do primeiro mundo. Nesse sistema, o papel da capital São Paulo foi redefinido, permitindo que a falta de infraestrutura material da cidade não seja impeditiva ao funcionamento do sistema maior.
Shenzhen, no sudeste da China:
grau de cobertura urbana em 1988 [Nasa Goddard Space Flight Center]
Shenzhen, no sudeste da China:
 a imagem evidencia o rápido crescimento da área urbana,
de modo ambientalmente danoso, em 1996 [Nasa Goddard Space Flight Center]
Shenzhen, no sudeste da China:
área urbana em 2009, com ampliação da península e da rede viária [Google Earth]

A urbanização no coração da economia

A urbanização no coração da economia

O papel das cidades no crescimento econômico (1)

Vinicius de Moraes Netto



Parte 1 - Introdução

O crescimento econômico é uma preocupação central em nossa sociedade e um processo tido atualmente como inexorável. Contudo, paira entre a maioria de nós uma visão da economia como uma espécie de abstração, algo imaterial, que se produz em alguma esfera “macroscópica,” para além dos contextos cotidianos da atividade econômica, quase como se produzida no ar e viabilizada em qualquer condição física. Nada pode ser mais equivocado que a visão da economia como imaterial. A economia é, antes, produzida em condições profundamente materiais e localizadas. Mas quais seriam essas condições? O objetivo deste texto é mostrar o papel estratégico da cidade, como locus da produção e cenário da inovação e do consumo, para o desenvolvimento socioeconômico. Este artigo argumentará que temos falhado em reconhecer que as dinâmicas econômicas são profundamente dependentes de estruturas urbanas. Temos, assim, falhado em preparar nosso país suficientemente rápido e na escala necessária para o crescimento anunciado e buscado por uma infinidade de atores – um crescimento de resto esperado pelo mundo: há uma expectativa internacional em relação ao Brasil como economia emergente e novo ator de peso nas decisões e na estabilidade socioeconômica mundial. Para tanto, este artigo problematizará a questão através de uma breve discussão de casos recentes na Brasil e China, que atravessam processos de desenvolvimento econômico ancorados em processos de urbanização, a fim de evidenciar a mútua influência entre a base material da cidade com o crescimento econômico. Em seguida, tecerá uma análise das cidades como o suporte e expressão das interações da economia – de resto possíveis em função das estruturas que se estendem desde o interior do país e do interior de nossas cidades até suas portas de exportação – além de importantes formas de investimento e consumo internos.