segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A importância das estruturas urbanas para a economia

                                                        Mapa aponta concentrações urbanas no leste da China,
                                                        em estudo desenvolvido na Universidade de Columbia [Columbia University]

Vejamos porque a cidade é por excelência o campo de parte substancial da produção econômica de um país. Estudos em geografia econômica definem aglomerações urbanas como externalidades ou resultados do processo econômico, com efeitos circulares sobre o próprio sistema (Marshall, 1920), sempre referentes ao problema da distância e custos de transporte. Estas aglomerações, produzidas para reduzir distâncias entre atores econômicos, assumem padrões internos de localização das atividades e dos atores sócio-econômicos – padrões que terminam por impactar as trocas econômicas e as localizações futuras de novos atores. A localização de firmas em condição de produção e transação e a localização residencial dos trabalhadores/consumidores fazem diferença nas capacidades desses em engajar-se em trocas econômicas, potencializando suas interações ao minimizar seus custos e tempo de transporte. A mediação do espaço da cidade e das redes de localização e acessibilidade regionais amplifica (ou impõe restrições) as possibilidades de interação dos atores econômicos, em função do grau de proximidade entre suas localizações. A economia em geral, e a organização dos agentes de produção em particular, precisam da cidade: a relação entre o “hardware” da cidade e o “software” das interações econômicas se coloca como um problema fundamental no desempenho econômico. Esse é o caso, sobretudo quando a organização da produção se descentraliza entre e dentro de setores, envolvendo redes de produção conjunta, incluindo tanto indústrias de manufatura, de maior impacto regional e metropolitano, quanto às indústrias de serviço e informação, de maior impacto intraurbano – ambos envolvendo crescente aglomeração. É através das estruturas da cidade e suas ligações a outras cidades e regiões que as ações e interações dos agentes se materializam: elas são condições para a economia auto-organizar-se com certo grau de eficiência – uma economia produzida, mesmo em suas amarras globais, fundamentalmente na escala das conexões locais e regionais (7). Aqui, claramente, a acessibilidade construída através de redes viárias é um item central para aumentar o potencial de contato entre atores e reduzir seus custos e tempo de transporte – itens de produtividade. Em outras palavras, os potenciais de interação estão manifestos na própria espacialidade dos padrões urbanos, e nos diferentes graus de estruturação de suas redes viárias. A eficiência econômica da estrutura física da cidade e da região depende da sua capacidade de permitir ligações de produção e interação entre firmas e entre setores, como redes de agentes complementares de produção posicionados em diferentes localizações (8). A mediação da estrutura urbana é fortemente presente nas relações entre os diferentes tipos de atores:
a) Interações entre firmas intermediárias e entre setores da economia que antecedem o contato final entre agentes consumidores e fornecedores. Empresas dependem das economias de aglomeração: as vantagens geradas pelas relações entre firmas na produção (input-output linkages), e no o compartilhamento dos mercados de consumidores e de trabalho (labour pooling) e dos spillover tecnológicos (consequências imprevistas ou o grau no qual o aumento de produtividade em setores upstream em uma indústria leva a níveis mais altos de produtividade metropolitana naquela indústria). No primeiro caso, a aglomeração do setor final em uma região ocorre em função da concentração da indústria intermediária, e vice-versa (9). Quando firmas do setor final estão concentradas, a demanda local por produtos intermediários aumenta, tornando a região atraente a firmas daqueles produtos. Ao mesmo tempo, em função de produtos intermediários estarem disponíveis em menores preços na mesma região (pela redução de custos de transporte gerados pela aglomeração), firmas de produção final são atraídas. Assim, podemos ter um processo cumulativo e circular levando a aglomeração (10). As ligações das redes de produção dependem da cidade, ainda, como meio para a organização de suas trocas intermediárias – transações que se beneficiam das aglomerações e que correspondem a uma parte substancial das interações na economia (11). A coordenação espacial entre firmas das redes de ligações produtivas são centrais para o desempenho da economia: o padrão espacial de distribuições de atividades e de acessibilidade urbana e sua extensão regional terão impactos sobre a realização das transações intermediárias na produção de bens e serviços. Estas podem ser menos ou mais eficientes em função da estrutura urbana e seus padrões de localização, acessibilidade, e a mobilidade assim proporcionada. Por outro lado, a estrutura espacial frente a interações de produção, e suas relações com fornecedores, consumidores finais e trabalhadores serão essenciais para eficiência das cidades como suporte a economia, ao relacionar-se à produtividade e, em longo prazo, a uma maior ou menor sustentabilidade da economia local. Há, em suma, uma correlação positiva entre a concentração espacial de firmas em ligação e a produtividade e eficiência organizacional nessas redes. Essa tendência para a aglomeração sofrerá, naturalmente, tensões centrífugas e deseconomias, mas será profundamente dependente das condições de acessibilidade. A geografia urbana é, assim, ligada à forma como firmas organizam suas atividades de produção, gerenciamento, e acesso a recursos, dentro e entre firmas (12).
b) A relação firma-trabalhador, tanto sob o ponto de vista da firma (buscando mão-de-obra) quanto do trabalhador (buscando ofertas de trabalho e condições de acessibilidade), também será impactada por padrões urbanos. Tanto decisões de localização da empresa quanto os custos e tempo de transporte impostos ao trabalhador podem ser influenciados positivamente por estruturas urbanas densas e de maior acessibilidade. Ainda é importante frisar que a mediação do espaço é um item de equidade social: as condições de uma estrutura urbana em distribuir benefícios locacionais e acessibilidade entre agentes socialmente diferenciados pode minimizar diferenças sociais (13).
c) A relação oferta de serviços/bens e consumidor final: há uma bem-conhecida relação de atratividade mútua entre consumidores e fornecimento final de serviços e bens (14) que tem a cidade como palco por excelência (a cidade como locus do consumo interno, que por sua vez é item crucial da animação da economia de um país): serviços e comércio disputam localizações privilegiadas no sentido da proximidade a seus consumidores potenciais e suas residências, e vice-versa. Distâncias mais curtas proporcionadas por cidades mais densas e redes viárias de boa acessibilidade tentem a impactar positivamente a mobilidade do consumidor, outro item central para a vitalidade do ciclo econômico.

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